domingo, 31 de janeiro de 2016

ANTÓNIO BARAHONA

VOZES


Voz de Camões na minha voz mistura
frases tão simples repetidas, hora a hora,
e enquadradas, verso a verso, na medida
de sonetos de voz perfeitamente pura

E também de Pessanha a voz infiltra
na minha voz a compleição sonora
e ainda a Quental sou devedor da técnica
de retratar a alma com esquadria

Na minha voz há ecos de tom íntimo,
poetas a falar, aberto o peito ao sôpro
e santos d'olhos postos no som mystico

Na minha voz há morte acumulada
e a minha própria vida é já matada
que só porque vos vi, minha Senhora.


Noite do meu Inverno, Averno, Lisboa, 2016.